O ceratocone é uma doença da córnea com caráter progressivo
que ocasiona afinamento central ou paracentral da córnea, geralmente inferior, resultando no abaulamento anterior da mesma, na forma de cone. A apresentação é geralmente bilateral e assimétrica.
Encontrada em todas as raças, nas diferentes partes do mundo, com prevalência que varia de 4 a 600 casos por 100.000 indivíduos. História familiar está presente de 6 a 8% dos casos, sugerindo herança familiar. Seu aparecimento mais comum ocorre na puberdade, geralmente entre os 13 e os 18 anos de idade, progride por aproximadamente 6 a 8 anos e, após, tende a permanecer estável.
O ceratocone pode estar associado a doenças sistêmicas como as síndromes de Down, Turner, Ehlers-Danlos, Marfan, além de atopias, osteogênese imperfeita e prolapso da válvula mitral. Condições oculares às quais pode estar relacionado são a conjuntivite alérgica, aniridia, amaurose congênita de Leber e retinose pigmentar. Existe forte associação com alergia ocular, sendo que o trauma por coçar os olhos está associado com o desenvolvimento e progressão da doença. O paciente pode relatar mudanças frequentes na prescrição de óculos ou diminuição na tolerância ao uso de lentes de contato.
Uma complicação possível é a hidropsia aguda, que decorre do afinamento importante e edema (inchaço) nas camadas da córnea, provocando diminuição súbita da acuidade visual associada a desconforto e lacrimejamento. Com a cicatrização, que ocorre entre 6 e 10 semanas, pode haver melhora da acuidade visual devido ao aplanamento da córnea.
Nos casos mais brandos, o tratamento do ceratocone é inicialmente realizado por meio de óculos. Para astigmatismos maiores ou mais avançados, lentes de contato rígidas podem ser adaptadas com sucesso. Atualmente, alguns casos apresentam melhora com adaptação de lentes esclerais próprias para ceratocone.
O crosslinking da córnea é tratamento indicado para os casos de ceratocone que apresentam evolução evidenciada com boa acuidade visual com óculos ou lentes de contato. Já o implante de anel intra-estromal pode ser uma alternativa para os casos com má adaptação ou intolerância às lentes de contato. O tratamento cirúrgico com transplante lamelar ou penetrante de córnea está indicado para os casos mais avançados ou com cicatrizes extensas que não melhoram com lentes de contato. Após a cirurgia pode haver necessidade de uso de óculos ou lentes de contato para obtenção de melhor acuidade visual.
Lentes de Contato e Ceratocone
O uso de lentes de contato em pacientes com ceratocone é considerado quando os óculos não possibilitam boa visão.
Ao adaptar uma lente de contato no paciente o oftalmologista busca condições que possibilitem uma adaptação mais fisiológica, em que ocorra uma menor agressão à córnea com menor probabilidade de piora da evolução do ceratocone.
Há vários desenhos de lentes de contato que podem ser utilizados na correção óptica do ceratocone, dentre eles: lente esféricas monocarpas, lentes bicurvas ou Sopper, lentes tóricas posteriores e anteriores, sistema cavaleiro ou piggyback, lentes multicurvas, lentes tricurvas e lentes escareais ou mini-esclerais. Dependendo do estágio de evolução da doença deve-se avaliar qual o desenho mais apropriado.
Todo usuário de lentes de contato deve fazer uma avaliação periódica de sua adaptação (a cada 6 meses). As lentes devem ser limpas e desinfectadas a cada uso. Isso deve ser feito por meio de fricção e enxágue, com o uso de soluções apropriadas.